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O que é a Parentalidade Consciente e como praticar?

 

“Podemos, a qualquer momento, escolher despir a armadura que nos protege e unir-nos aos nossos filhos, oferecendo-lhes o presente de sermos pais mais abertos, compassivos e compreensivos.”

Jon Kabat-Zinn

 

A parentalidade consciente é uma forma de estar na vida em que o foco está no desenvolvimento conjunto entre pais e filhos. Quando falamos em parentalidade consciente significa que o nosso foco enquanto cuidadores é a nossa própria transformação. 

É esta transformação que irá criar as condições para que as crianças cresçam sendo quem são e possam viver em todo o seu potencial. A forma como abordamos a parentalidade influencia, em grande medida, o coração, a alma e a consciência da geração seguinte, a sua experiência de sentido e ligação, o seu repertório de competências e os seus sentimentos mais profundos acerca de si mesmo e do seu lugar num mundo em rápida mudança.

O poder está então do lado dos pais, as primeiras relações e as mais importantes da vida de uma criança. É essencial para as crianças ter cuidadores responsáveis que nutram amor por elas e que estabeleçam relações saudáveis e de confiança. A qualidade das relações entre a criança e os principais adultos na sua vida tem uma grande influência na sua felicidade, na sua saúde, no seu bem-estar e no desenvolvimento da sua auto-estima.

Esta transformação pessoal que implica a prática da parentalidade consciente tem por base a definição das nossas intenções e valores enquanto pais e a prática de mindfulness.

 

O Poder da Intenção

 

A prática da parentalidade consciente começa sempre com uma intenção. Essa intenção clara estabelece quem queremos ser na relação com os nossos filhos para que eles possam florescer na sua autenticidade e os libertemos para não precisarem da nossa aprovação nem corresponder à nossas expectativas.

A intenção serve-nos de guia na relação e na conexão que estabelecemos com os nossos filhos. Para isso é essencial que cuidemos da nossa vida interior para que seja a nossa consciência a informar-nos, momento a momento, a melhor forma de exercer a tarefa da parentalidade. Mesmo quando somos chamados a disciplinar, a consciência mostra-nos como o fazer para incentivar o espírito do nosso filho, e não a diminuí-lo. A relação entre pais e filhos torna-se uma experiência transcendente, repleta de trocas emotivas e dignas de seres que reconhecem o privilégio de encontrar um parceiro espiritual e elevamos a parentalidade do domínio físico até ao domínio do sagrado.

Estes são alguns exemplos de perguntas que nos ajudam a definir as nossas intenções enquanto pai/mãe que tenciona praticar uma parentalidade consciente:

  • Que valores gostaria de transmitir ao meu filho?
  • Como posso ajudar o meu filho a ser feliz?
  • Como gostaria que fosse a nossa relação?
  • Como gostaria que fosse o ambiente na nossa família?
  • Que qualidades, características e capacidades gostaria que o meu filho tivesse?
  • De que forma poderei influenciá-lo para que possa adquiri-las?
  • Como devo agir, se quero que o meu filho seja uma pessoa respeitadora, empática e honesta?

 

Os valores em que assenta a Parentalidade Consciente

 

A Parentalidade Consciente assenta em quatro valores base que acredita serem os alicerces da vida em família:

Igual Valor

 

Os desejos, as opiniões, as necessidades e as emoções do adulto são respeitadas exatamente da mesma forma que as da criança. O valor que sentimos que temos numa relação é fundamental para o desenvolvimento da nossa autoestima e para a existência de um relacionamento saudável.

Autenticidade

 

Honrar e exprimir aquilo que somos em qualquer situação procurando criar um ambiente de presença, abertura e verdade. Para o seu saudável desenvolvimento, uma criança precisa tanto de momentos de harmonia como de momentos de conflito, desde que exista espaço para a autenticidade.

Respeito pela Integridade

 

É a soma de tudo o que somos em determinado momento. Aqui falamos de limites e de necessidades físicas e psicológicas. Quantas vezes desrespeitamos a nossa integridade, deixando de escutar o nosso interior em detrimento do que nos é exigido exteriormente? Esse desrespeito tem um efeito nefasto na auto-estima. Se não respeitarmos a nossa integridade também não conseguiremos respeitar a integridade dos outros.

Responsabilidade Pessoal

 

É assumir a responsabilidade pela nossa vida, ações e escolhas, e é deixar que os nossos filhos assumam as responsabilidades adequadas à sua idade. É muito importante que deixemos as crianças assumirem as responsabilidades que conseguem assumir.

 

O comportamento como comunicação de necessidades

 

Na parentalidade consciente é retirado o foco da correção do comportamento sendo o comportamento encarado como uma forma de a criança comunicar as suas necessidades, sejam elas fisiológicas ou emocionais. O nosso papel enquanto educadores é ser o detetive que responde à pergunta: “porquê?” em vez de se focar no “como” corrigir o comportamento. Quando a necessidade está satisfeita (que é diferente de satisfazer desejos!) a questão do comportamento deixa de fazer sentido. Podemos então ajudá-los a comunicar as suas necessidades, sendo bons exemplos do comportamento que gostaríamos de observar neles e assumirmos a nossa responsabilidade enquanto os seus guias, mentores, pais conscientes e presentes para educarmos crianças resilientes, saudáveis e felizes. E nos momentos de maior desafio que podemos sempre recordar das nossas intenções e recorrer à prática do mindfulness. 

 

O Mindfulness

 

A pesquisa ligada aos benefícios do mindfulness e do mindfulness na parentalidade, as descobertas na área da neurociência, a teoria do vínculo e também a teoria da autodeterminação na área da psicologia, entre outra investigação recente constituem a base científica que suporta a parentalidade consciente.

De uma forma simples, o mindfulness é a consciência que emerge quando prestamos atenção de propósito no momento presente e sem julgamentos. É através do mindfulness que conseguimos estar mais presentes e mais conscientes em todos os momentos da nossa vida. Podemos escolher fazê-lo especialmente com os nossos filhos.

As crianças simbolizam o que de melhor a vida tem: vivem no momento presente e florescem de forma extraordinária. São pura potencialidade, vitalidade, renovação e esperança. Simplesmente são aquilo que são sem filtros, máscaras ou qualquer tipo de crença sobre o que podem ou não podem ser ou do que são ou não são capazes. Experimentam, erram, caem, tentam de novo, aprendem, desenvolvem-se. Ao partilharem esta sua natureza vital e genialidade autêntica ativam-na também em nós, se estivermos presentes e escutarmos o seu chamamento.

Para terminar importa salientar que uma mãe ou um pai consciente, sabe que não é perfeito nem procura a perfeição. Mostra-se autêntico, naturalmente imperfeito e entende e aceita que é perfeito na sua imperfeição. Oferecendo ao seu filho espaço para que possa fazer o mesmo. A vulnerabilidade e coragem são ingredientes fundamentais se queremos adotar um estilo de vida mais consciente, onde na verdade estamos a plantar as sementes para criar um mundo melhor.

 

“Na verdade, não existem pais mindful: umas vezes somos mais mindful, outras menos, mas o simples facto de trabalharmos com consciência já nos vai permitir reparar se ficamos enredados em pensamentos ou somos levados por emoções reativas. Ter mais consciência não significa que vamos deixar de ser pais stressados ou preocupados ou atolados em trabalho. Teremos é mais noção de quão stressados, preocupados ou sobrecarregados estamos e essa consciência ensina‑nos que entre o estímulo e as minhas reações existe um espaço que não tem de ser automático.”

Jon Kabat-Zinn

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